Desvio de patrimônio durante o casamento. Saiba como proteger seus bens. "Meu marido comprou tudo em nome de terceiros. O que devo fazer?" - Dra. Talissa Caldonazo, advogada especialista em Direito de Famlília e Sucessões no interior de São Paulo

Principais métodos de desvio de patrimônio no casamento e como agir após o divórcio

Saiba como agir durante a ocultação e após a sua descoberta

Ocultação de patrimônio e manipulação de bens é uma prática recorrente nos processos de divórcio, especialmente quando há desequilíbrio econômico entre os cônjuges. Além do prejuízo financeiro, essas condutas violam a boa-fé e podem trazer graves consequências jurídicas. Este artigo vai te orientar com clareza e respaldo legal.

1. O que é desvio de patrimônio conjugal?

Desvio de patrimônio ocorre quando um dos cônjuges dissimula ativos com a intenção de reduzir sua parte na partilha. Entende-se por patrimônio oculto:

  • transferências a terceiros (“laranjas”);
  • abertura de offshores ou holdings;
  • investimentos em criptomoedas inéditas;
  • simulação de dívidas ou empréstimos fictícios.

Essas estratégias visam fraudar o princípio da meação, prejudicando o direito do outro cônjuge, especialmente se este detém menor poder financeiro.

2. Principais métodos de ocultação

2.1 Uso de “laranjas” e interpostas pessoas

Consiste em transferir bens para pessoas de confiança ou empresas controladas, simulando que não pertencem ao cônjuge que se divorcia.

Exemplos comuns:

  • Compra de imóveis em nome de irmãos/amigos;
  • Abertura de empresas com “sócios fantasmas”;
  • Veículos registrados em nome de funcionários.

2.2 Offshores e holdings patrimoniais

Constituição de estruturas jurídicas no exterior (paraísos fiscais, fundações ou EIRELIs) para esconder patrimônio e dificultar sua identificação judicial.

  • Contas bancárias nas Ilhas Cayman ou Suíça;
  • Trusts em Jersey ou Ilhas Virgens;
  • Sociedades offshore em Panamá ou Belize.

2.3 Criptomoedas e criptoativos

Transferência para carteiras virtuais (wallets ou cold storage), sem registro público, dificultando a rastreabilidade do patrimônio.

Técnicas frequentes:

  • Carteiras em exchanges não-KYC (sem identificação);
  • Transferências para wallets frias (desconectadas da internet);
  • Compra de NFTs como “reserva de valor não rastreável”.

2.4 Simulação de dívidas e manipulação contábil

Declaração de empréstimos fictícios, contratos simulados e contabilidade falsa são formas inteligentes de reduzir patrimônio aparente.

3. Como Identificar a Ocultação Patrimonial?

Fique atento(a) se seu cônjuge:

  • Reduz patrimônio declarado sem justificativa (ex.: venda de imóveis “abaixo do valor”);
  • Mantém contas bancárias secretas (extratos não chegam em casa);
  • Tem “empréstimos não quitados” para parentes (método para repassar valores);
  • Viaja frequentemente a paraísos fiscais (Suíça, Caribe);
  • Usa dispositivos criptografados (e exclui histórico de navegação).

4. Impactos jurídicos e penalidades

4.1 Fraude à partilha e ação de sonegados

Art. 1.992 do Código Civil determina que quem sonega bens perde sua meação. Pode ocorrer anulação da partilha e indenização por danos.

4.2 Consequências penais

A ocultação de patrimônio pode configurar crimes como lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613/98) e fraude à execução, com sanções de detenção, multa e bloqueio de bens.

4.3 Medidas cíveis e de urgência

Ação cautelar para indisponibilidade de bens, arrolamento de ativos, quebra de sigilo bancário e fiscal como forma de proteção ao patrimônio .

5. Sobrepartilha: como corrigir a partilha

5.1 O que é?

A sobrepartilha é uma nova partilha judicial/extrajudicial para incluir bens não contemplados na divisão original. Permitida quando comprovada a ocultação ou desconhecimento dos bens.

5.2 Prazos para entrar com ação

  • Judicial: prazo decenal (10 anos) contados da ciência inequívoca do bem ocultado .
  • Extrajudicial: permitida via escritura pública, desde que não haja incapazes na herança .

5.3 Termo inicial da prescrição

OBS: O STJ define que a prescrição começa com o trânsito em julgado da sentença que homologou a partilha, não da data do divórcio..

6. Como agir ao descobrir patrimônio oculto

  • Antes do Divórico (Preparação Estratégica)
  1. Junte provas/Documento tudo: extratos, IR, contratos, transações com offshores, rastros de criptominias, fotografe bens, armazene e-mails;
  2. Solicite medidas emergenciais: indisponibilidade de ativos, busca patrimonial.
  3. Procure perícia contábil: para análise de fluxos financeiros e identificação de desvios e inconsistências patrimôniais.
  4. Acione o juiz cautelarmente: Para bloquear transferências suspeitas.
  • Após o Divórcio (Acionando a Sobrepartilha)
  1. Reúna provas digitais: Print de conversas, e-mails, histórico de transações em exchanges;
  2. Solicite quebra de sigilo: Bancário, fiscal e telefônico (via juiz);
  3. Contrate perito em blockchain: Para rastrear criptomoedas;
  4. Apostile documentos internacionais: Para comprovar offshores (Convenção de Haia).

OBSERVAÇÃO: As provas ilícitas (ex: Hackear contas) são inadmissíveis

7. Prevenção antes e durante o casamento

  • Pactos antenupciais: escolha de regimes (separação total, comunhão parcial com cláusulas específicas);
  • Cláusulas de transparência patrimonial: exigência de prestação de contas periódicas em caso de renda variável.
  • Declaração anual de patrimônio: Ambos atualizam ativos perante tabelião;
  • Monitoramento conjunto: Contas em corretoras e bancos digitais com 2 fatores.

“Meu marido comprou tudo me nome de terceiros. O que devo fazer?”

Ocultar patrimônio no casamento é prática fraudulenta, com sanções civis, penais e administrativas. A sobrepartilha é um instrumento eficaz para reverter injustiças patrimoniais. Com planejamento e ação estratégica, é possível reequilibrar direitos. Procure um advogado especialista para lhe oferecer orientação técnica, acolhimento e representação jurídica para proteger o seu patrimônio.

Eu acolho e represento a sua dor. Afinal, você tem o poder de fala!
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